Blush na Justiça


Essas coisas só acontecem comigo.
Sente-se para ler, porque a história é comprida.

Na última sexta, quando você estava se preparando para o happy hour com os amigos, ou aquele filminho aconchegante com a sua cara-metade, eu estava chegando ao Tribunal Federal em Lausanne, debaixo de chuva, e trazendo comigo uma torta de morangos. Lôca.

Minha amiga Melanie vinha junto, porque também estava envolvida na ocorrência. Na porta do tribunal nos encontramos com um casal de velhinhos, e nosso anfitrião em trajes muito mais dignos do que da última vez que nós o haviamos visto. Ele trajava terno, colete e gravata.

Tribunal? Sexta à noite? Casal de velhinhos? Torta de morango? Explique por favor? Bom, volte a fita para fevereiro de 2011. Frio do capeta. Melanie e eu subiamos a rua de bike, depois de um treino suícida pro Cabo Épico, quando "BANG". Um ciclista que descia a rua desembestado bate na curva e já cai no chão desacordado. Meu Deus...

Largamos as bikes e viemos correndo acudir. "Mel, chama uma ambulância". Eu saio que nem uma lôca parando os carros pra não acontecer coisa pior. Um carro pára com dois velhinhos dentro. O senhor ajuda a parar o trânsito e a senhora me entrega dois cobertores que tinha no porta-malas. Cobrimos o pobre ciclista desacordado no chão. Ele não tinha sangue aparente, pois estava muito vestido por causa do frio. Procuro por documentos. Ele se chama Roland Jaquet. A ambulância chega, entrego os documentos e o celular dele ao pára-médico e levo a bike à bike shop de onde háviamos saído mais cedo. Explico a situação ao dono da loja e peço que guarde a bike do acidentado. Entrego um cartão da loja ao para-medico, onde escrevo: "Sua bicicleta está bem guardada. Sinceras melhoras."

E assim, não tivemos mais notícias do Sr. Jaquet.

Há duas semanas, porém, recebo um email com os dizeres: "Andrea e Melanie, obrigado por me salvarem a vida. Hoje saí pela primeira vez de bicicleta após 4 meses de recuperação. Gostaria de celebrar e agradecê-las com um aperitivo. Segue meu endereço (...)"

E qual não foi a nossa surpresa ao entender que aquele era o endereço do Tribunal Federal da Suíça, em Lausanne...  Roland Jaquet é o "concierge" do prédio. Entramos. Tinhamos sido convidadas para um "aperitivo", e era por isso que eu trazia a torta de morangos. A Melanie tinha uma garrafa de vinho na bolsa. Ela deve ter sido a primeira senhora francesa a ter permissão para entrar num tribunal com bebidas alcoolicas.

Foi fantástico ver o Sr. Jaquet em muito melhor estado do que o conhecemos. Foi bom rever o casal de velhinhos que nos ajudou no "salvamento". Foi interessantissimo ver o Tribunal, as salas de audiência, as colunas de marmore carrara e os afrescos do início do século XX. A biblioteca e o salão de reuniões já foram um pouco demais. E os arquivos subterrâneos e os cárceres privados foram absolutamente desnecessários. A visita guiada pré-aperitivo durou duas horas! Muito, até pros curiosos como eu.

Vida longa ao Sr. Jaquet, e fica a lição aprendida: A gratidão suíça, pode acabar na justiça!

Comentários

  1. Adorei!!! Eu bem que queria conhecer esse Tribunal...deve ser elegantérrimo! Beijocas! Saudades!

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  2. Olá, Andrea! Meu nome é Roberta e quem me indicou seu blog foi a Liana (elaeamericana). Estou de mudança para Lausanne daqui a 2 meses (meu marido foi transferido) e estou completamente perdida, pois sou advogada e sei que minha chance de advogar aí é zero! Poderia me dar alguma dica? Vc. já está aí a muito tempo? É vc. quem faz (ou fazia) a "hora do blush" da JB??? beijos!

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  3. Oi Roberta! Espero que você veja minha resposta, e desculpe a demora! Que barato que você está vindo pra Lausanne. Vou ter o maior prazer em te contar tudo que aprendi ate agora, e ajudar no que for preciso. Meu email é andrea@horadoblush.com.br. Me escreva e conte mais dessa sua nova aventura. Beijo

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