Opera Pop

Era meu último dia em Londres depois de 10 dias intensos de Olimpíada. Estávamos em Convent Garden antes de pegar o trem pro aeroporto, tomando um café ao som de uma bandinha folk. A prática é comum nas esquinas de Londres: uma banda vem, arma seus instrumentos, liga tudo na caixa de som, abre a caixa do violão para as contribuíções dos passantes e toca música própria na espera de que um caça talentos passe por ali e os descubra como os próximos Beatles.

Ali em Convent Garden, essa prática já virou tradição porque a acustica é boa e várias bandas se revezam no "palco". O som da banda que tocava era gostoso mas chegamos no final e ouvimos as duas últimas músicas como som de fundo da nossa conversa animada. Enquanto eles desligavam o equipamento, vi uma mulher dos seus trinta e tantos anos de vestido longo e cabelo comprido chegar e instalar sua bolsa e seu banquinho. Não vi instrumentos nem caixa de som. Por uma fração de segundo me perguntei o que ela ia fazer mas logo deixei de prestar atenção e voltei a conversar. Mas então ela começou a cantar. Sem microfone, sem instrumentos. Só uma voz que pareceia sair diretamente da alma. Me virei hipnotizada por aquele lamento alto e claro, que ecoava lindamente pela praça barulhenta onde estávamos. Uau...

Foi naquela hora que entendi a ópera e passei a amá-la. Fã que sou de shows e festivais de música, nunca tinha parado para pensar no significado da ópera, esse show grandioso que existe desde muito antes da invenção de sistemas eletrônicos de propagação do som. A ópera é a força bruta da alma humana se propagando em forma de som, de música.

Falei da minha experiência em Convent Garden com Clarence e Suzanne, e pouco tempo depois elas me presenteavam com entradas para a Ópera de Lausanne. E aquilo se tornou uma tradição de aniversário.





Na semana passada fomos ver La Traviata, numa produção moderna, tipo "ópera para iniciantes". Bom pra nós, que somos pop!


Comentários

Postagens mais visitadas