Blush e Schatzi na Costa Amalfitana

O som de uma palavra, o desenho dos arranha-céus no horizonte, o balanço dos barcos no porto. A espera na fila do bar, o sorriso de quem te atende. A velocidade do trânsito e da vida de quem vive ali. A cor do mar ou das montanhas, o sabor do que se come e bebe. O efeito da temperatura. Viajar é um presente aos sentidos, sobretudo se você está aberto aos estímulos que se jogam na sua frente o tempo inteiro. E para quem quer absorver tudo de canudinho sem deixar uma gota pra trás, a bicicleta a maneira ideal de viajar. A velocidade é perfeita para apreciar o que está ao redor; mais lenta que a motor, mais rápida que a pé. O contato com o ambiente e com as pessoas é infinitamente mais próximo do que de dentro de janelas fechadas. Você vai de A a B sem precisar de ônibus, metrô, estacionamento. E chega morrendo de fome – perfeito para experimentar os sabores do lugar. 

Um dos maiores desafios de uma viagem de bike é fazer a mala! O mínimo necessário, em teoria, não incluí aquele vestido novo nem as sandálias combinando. É preciso lembrar que cada ítem a mais deixando a mochila mais pesada, pode ser motivo para um pedal menos prazeroso. Mas o que nao se faz nessa vida com jogo de cintura? Li recentemente num blog de moda que escolher uma gama de cores ajuda imensamente a fazer uma mala leve, mas com staile :) 
E quando o destino é a Italia, staile é fundamental! Escolhemos o sul – Napoles e a Costa Amalfitana.
Chegamos ao aeroporto de Napoles com as bikes em caixas de papelão que deixamos por lá mesmo. A mochila veio como bagagem de mão, enquanto o pequeno alforge preso no canote viajou com a bike. Fomos instruídos a não sair pedalando do aeroporto por causa do tráfego pesado nas vias da região.
Seguimos de taxi para Portici, na baía de Napoles, e de lá pedalamos até Torre del Greco, nossa primeira parada. Tínhamos reservado hotel ali para a primeira noite e tínhamos uma vaga idéia sobre o roteiro dos dias seguintes, mas tudo muito solto, podendo mudar quando desse vontade. 
Torre del Greco é uma cidade litorânea no pé do Monte Vesúvio. Foi por causa dele que escolhemos esse ponto de partida. Aproveitamos um belo jantar com antipasti e peixe fresco e acordamos no dia seguinte prontos para subir vulcão. 
A subida começou íngreme enquanto o último resto de cidade ficava para tras. Logo estávamos alto o suficiente para apreciar a vista de Napoles à direita e as montanhas da Costa Amalfitana à esquerda. Continuamos a subida e entramos numa floresta densa e cheia de curvas estreitas onde os ônibus de turismo vinham buzinando para avisar quem vinha no sentido contrário. Nos úlmos 3 quilômetros da subida, ficou claro que estávmos em terreno inóspito. A floresta foi ficando escassa, pedras de avalanche por todo lado e um solo que ia mudando de cor nas laterais da estrada. Chegamos ao portão da trilha que leva à cratera e tivemos que deixar as bikes trancadas numa árvore. Subimos os últmos 200m verticais sentindo a mudança de temperatura (que era de 25 graus no nível do mar e de cerca de 15 graus a 1.100m). E o que você vê quando chega ao topo de um vulcão? Depende. O Vesúvio é um vulcão ativo que está, no momento, dormindo. A cratera em si lembra um lago que secou. Há muita erosão e fumaça saindo de algumas partes da parede interna da cratera. Para mim, foi incrível chegar tão perto de um dos mais impressionantes fenômenos da natureza.
Do alto do Vesúvio, descemos como lava até Pompéia. Pedalar pelo centro novo da cidade, que rodeia as ruínas, não foi fácil. Quem conhece Ouro Preto tem uma idéia do que é pedalar, com bikes de cyclo-cross, em calçamento. 
Visitamos as ruínas no dia seguinte, surpresos com a imensidão da cidade que foi devastada pelo Vesúvio na era do Império Romano. Talvez o mais impressionante sobre essa cidade seja o fato dela ter ficado desaparecida sob lava e cinzas por dois mil anos, e servir hoje, melhor que qualquer museu ou livro de história, para entendermos como viviam os romanos.
Depois de alguns sorvetes na cidade, seguimos viagem em direção à Costa Amalfitana. Dependendo da época do ano, essa região da Itália é (quase) como nos filmes: Vilarejos coloridos equilibrando em penhascos com o Mediterrâneo muito azul lá em baixo; pizzarias com toalha xadrez nas mesas e luz dourada de velas; barquinhos voltando apinhados de peixes ao sol nascente; senhoras carregando compras e rapazes carregando senhoras em suas vespas de 1960. Isso em outubro no verao, tudo que acabei de descrever some atras de ônibus de turismo.

Subimos um bocado e chegamos, ao pôr do sol, a Ravello. A cidade fica a 600m diretamente acima do mar. Ela é uma espécie de varanda no mar Mediterrâneo. Encontramos um terraço ensolarado e festejamos nossa chegada com prosseco gelado. Passeamos encantados pelo vilarejo e descemos no dia seguinte à Amalfi, onde tomamos café da manhã no tradicional Andrea Pansa, uma pasticeria e cafeteria no meio da praça da cidade. Devoramos uma sfogliatella, o doce típico da região, observando o senhor passeando com o cachorrinho, o grupo de turistas asiáticos viajando através das lentes de suas câmeras, o policial de olho, sem o menor pudor, na bella ragazza que passava em frente a ele e assim por diante

Mais perto do mar, continuamos seguindo a costa, sempre subindo e descendo em direção a Positano. Depois de encontrarmos um hotel, descemos para a praia onde terminamos o dia com um mergulho no mar. Escolhemos o restaurante a dedo, com vista pro mar.


No dia seguinte, a bike ficou descansando e eu curti praia, livro e stand up paddle. Seguimos então para Sorrento, e de lá para Capri, de barco. Capri, como todo o resto da Costa Amalfitana, é cheia de sobe e desce. A área de desembarque é lotada e barulhenta, mas assim que você começa a subir para o vilarejo, entende a vibe da ilha: um misto de simplicidade e glamour que me lembrou Trancoso, na Bahia. Tivemos dificuldade para achar hotel, pois a maioria já estava fechando as portas para o inverno. Mais sobe e desce nas ruazinhas e encontramos nosso pouso para as próximas duas noites. Jantamos numa taverna bem tradicional, tomamos o vinho local e fomos agraciados com limoncello, bebida típica da região, num copinho gelado.
Acordamos e seguimos de Capri a Anacapri, o outro vilarejo da ilha. Subimos ao ponto mais alto, Monte Solaro, fazendo uso dos nossos pneus na trilha cheia de cascalho. A vista de 360 graus te permite ver o Monte Vesúvio, Napoles, Ischia, e bem ao longe, o resto do continente que vai formando a “bota” da Itália.


De Capri pegamos o barco de volta para Napoli, onde nossa jornada terminou numa pizzaria familiar, assistinho Napoli FC perder para os Young Boys de Berna. Coincidência divertida, principalmente quando o pizzaiolo descobriu que tinhamos vindo da Suíça.






Voamos de volta no dia seguinte e foi na estação de trem, pouco antes de subir pedalando para casa, que lembramos que a geladeira estava vazia. Para quem passou uma semana viajando que nem caracol com a casa nas costas, adicionar uma abóbora, um litro de leite, algumas frutas, ovos e o pãozinho antes de subir pra casa, não faz a menor diferença! 

Comentários

  1. Que legal Andrea!!! Viajei com vcs de novo!!! Que maravilha!!! Parabéns pelo estilo de vida que escolheram... Um sonho... Que invejaaaaaaaa!!!! Abraços!!!

    Vinicio

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  2. Muito lindo... belas fotos e um texto rico em detalhes, pra variar!!!
    Tudo de bom pra vcs!!!
    Bjs

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