Blush (numa outra) Alemanha



Minha bat-missão dessa vez foi no noroeste da Alemanha, perto de Dusseldorf, em Bochum (lê-se Bórrum). Era Copa do Mundo de estrada feminina e eu lá de cartola.
 


 
 
A organização foi impecável (alô, é a Alemanha!) e com isso me sobrou energia pra dar a famosa e internacional corridinha antes do café da manhã. Dei aquela estudada no mapa, anotei mentalmente quantas direitas e esquerdas tinha que virar e cheguei ao parque de Bochum.

 
Tinha chovido a noite inteira e o céu ainda estava cinzento. As alamedas do parque eram escuras e minha imaginação começou a trabalhar, me colocando dentrinho dos contos de fadas (ou bruchas) que eu conhecia quando era criança. 

 
E assim que dei de frente com a primeira escultura de ferro fundido no jardim, a imaginação foi à loucura. Eu corria, subia, descia, virava aqui e ali meio sem rumo, deixando aqueles corpos estranhos de metal me guiarem. 

 
O parque fica atrás do museu de Bochum, que traz um extenso acervo de fotos e equipamentos da era da mineração de carvão, principal atividade economica da região por muito tempo - o que explica as "esculturas" - que nada mais são do que pedaços do que sobrou da atividade extracionista, agora quase extinta.

 

Mas não é só a arte bruta que lembra o passado dessa região. O comportamento das pessoas também reflete o que se passou por aqui há menos de um século. A Westfalia do Norte teve um papel importante na industrialização e enriquecimento da Alemanha pré-guerra, a custos altíssimos para o desenvolvimento humano. Karl Marx que o diga!


Mas a revolução industrial se fez realidade, as guerras vieram e se foram, os combustíveis ficaram mais sofisticados e as industrias de mudaram pra China. Hoje Bochum é uma cidade universitária, assim como a visinha Dusseldorf. Mas há qualquer coisa no ar que lembra os tempos de pobreza e opressão, e essa coisa é seu exato extremo oposto.

 
Nunca, no meu contato com a Alemanha e os alemães, eu havia visto tanto "bling-bling". Eu não sabia que a mulher alemã gostava de salto alto e roupa justa. Nem de bijuteiras douradas exageradas. E nem que os homens usavam tanto gel no cabelo, carro esporte rebaixado de vidro preto e música alta. Essa não era, definitivamente a minha noção do comportamento alemão. Mas ali naquela região - em harmonia com o amor pelo ciclismo, não me deixe esquecer - vê-se um tanto disso.
 
O "Triangulo das Bermudas" é um quarteirão triangular entupido de bares, restaurantes e baladas - Me acabei no sushi bar!

E de repente entendi melhor o Brasil. Correndo ali naquele parque em meio a coelhinhos, esquilos e restos da fuligem do carvão, entendi que o caminho é longo até um povo se livrar da opressão e pobreza do seu passado e ter uma convivência serena com a prosperidade.

A Europa vem passando por esse processo há centenas de anos, mas no Brasil ainda engatinhamos. A pobreza e a opressão são aqui e agora, e a prosperidade ainda se expressa por meio de "bling-bling", dourado e vidro preto.

Por mim tudo bem, desde que o verde, os coelhinhos e a arte não passem batido.




Comentários

  1. Olá Andrea! Sua percepção é a mesma que tenho! A evolução da sociedade é um processo longo e demanda tempo para que a mente do coletivo vire a chave... é quase que um click!! Bons parâmetros ajudam nesse processo.
    Mas vamos que vamos né?
    Adoro sua publicações
    Um abraço

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