Etapa 4 - Feliz Aniversário



(Essa se tornou a música oficial do BR2011)

81.5 km
2343 m de ascenção
Tempo de corte: 9h

Foi assistindo um filme que adoro (Antes do Amanhecer) que percebi: Eu vivo com medo de morrer. Desculpe começar com uma declaração tão pesada. Vai melhorar, não se preocupe.

Não é um medo paralizante. É um medo "amigo". Ele mora no meu subconsciente e emerge quando um carro passa por mim muito perto ou muito rápido. Quando atravesso uma rua movimenta ou viajo de avião. Quando ando em montanha russa ou desço de rapel. Quando viajo de carro. Sempre parece que alguma coisa vai me acontecer. Na maioria das vezes, não acontece.

E o que é maluco é que ele não me impede de nada. Não me impediu de voltar a pedalar, nem de viajar de avião. Muito menos de correr o Brasil Ride. Parece que ele fica ali me desafiando. Como quem diz: "Duvido que você tenha coragem..."

Claro que quando você passa por uma situação como a que eu passei há 11 anos na Chapada, alguma coisa muda dentro de você. Eu nunca soube exatamente o que tinha mudado, mas estava determinada a descobrir. E queria exorcisar esse medo, que apesar de inofencivo, sempre projeta historias horriveis, em frações de segundos, na minha mente.

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Acordei naquele dia 26 de outubro feliz. Era aniversário, eu estava no meio de amigos, fazendo o que eu mais gosto nessa vida, meus pais estavam lá e o céu estava azul. Perfeito!



O primeiro a me desejar feliz aniversário foi o meu Polar. GRA-CI-NHA!



Nos preparamos para um dia muito quente e largamos. Teriamos muita subida, e uma delas era minha velha conhecida, rumo ao vilarejo de Mato Grosso, onde o acidente aconteceu. Quando começamos a chegar perto, disse pra Melanie: Não consigo parar de pensar nisso... To com medo. Ao que ela respondeu: então pense o seguinte: cada pedalada que você dá, deixa mais pra trás o que te aconteceu. Pense que o caminho que você está percorrendo hoje, logo vai subistituir com lembranças boas, as ruins que você guardou.

E assim, com os olhos cheios de lagrimas, deixei pra trás uma carga que já não quero mais carregar. Passei leve, e pedalado, pelo lugar onde a brincadeira quase acabou um dia. Será que o medo também tinha ficado pra trás?


Não. Ele continuava ali. Mas os dias que seguiram me mostraram o que afinal, aquele acidente tinha me ensinado...

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Na última subida, num calor de 44°, vejo o fotógrafo, editor da revista Bike Action e amigo querido Fábio Piva numa pseudo sombra a dizer: "Nem por um milhão de dólares eu passava meu aniversário nesse p*%& sofrimento!" Típica frase do Piva :)



Fizemos uma excelente etapa, chegamos em segundo lugar e festejamos no pódio e depois com o bolo de brigadeiro da mamãe.







Tinha sido um aniversário muito feliz.

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E o que aquele acidente tinha me ensinado?
Que a gente pode viver com medo do que for. Menos de viver.

Comentários

  1. Olá Andrea,

    Eu e meu marido somos leitores da Bike Action e amantes da Bicicleta. Acompanho sua coluna há anos e seu blog na Suiça desde o inicio. Hoje depois desse post fiquei com lágrimas nos olhos...e mesmo longe e sem nunca ter te conhecido desejo um monte de coisas lindas pra vc. Que esse medo tenha ficado no passado e que venham os novos desafios. Bjs com carinho.

    Cláudia Fontes

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  2. PARABÉNS!!!
    Sua vivência nos incentiva muito a batalhar sempre para vencer os desafios, por mais difíceis que pareçam!!! Você é uma pessoa especial!!! Bjs

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  3. Muito bonito esse post Andrea! Abraços do "Sr" Paulista, como vc mesma as vezes escreve.

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  4. Claro que vc gostou né... comemoraçao só com a galerinha du pedal...chata!

    Ass: A amiga(?) escorpiana e ciumenta mesmo, e daí!

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  5. Claudia, Claudio, Sr. Paulista e Amiga Ciumenta Escorpiana,

    fico extremamente feliz de me encontrar com vocês aqui, mesmo que virtualmente, pra dividir coisas que acontecem na minha vida, e que acabam causando algum tipo de emoção em quem lê. Acho que isso é a relação humana elevada à potência máxima. Beijos e obrigada pelos comentários carinhosos.

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