Etapa 3 - Se tiver mais uma curva com areia, eu grito.



Saronsberg/Worcester 125km - 1900m de ascenção - tempo máximo da etapa: 10h

Dizer que a etapa ia ser dura era redundância. Mas para essa, os organizadores pediram atenção especial. "Há trechos com muita areia" disse a diretora da prova. E acrescentou: "E eles vão devorando as pernas devagar"...

Largada às 7.20, café da manhã às 5.45, de pé às 5. Dizem que o que não mata, fortalece. Eu acredito.

Na primeira reta, quando precisei acelerar pra me manter no pelotão, vi que estava sem potência. E pedi baixinho que viesse a primeira subida, para que eu pudesse girar lentamente numa frequencia constante. A subida veio, mas não deu pra pedalar. Era um single-track onde, se o primeiro da fila vaciliasse, todo mundo tinha que descer da bike e empurrar.

Mas depois veio a descida, cheia de pedras e areia e pedras e areia e mais areia. E veio a reta, com areia. E mais uma descida com areia e pedras. E uma subida de areia. E muitas curvas com areia. E uma reta com espinhos. E meu pneu tube-less foi tão espetado que não conseguiu vedar tudo ao mesmo tempo. E perdeu ar... Rodamos cerca de 20km enchendo o pneu a cada 5km, até chegarmos ao apoio técnico. Alívio.

O problema é que até ali tinhamos rodado apenas 70km em 5h... E o tempo máximo da etapa era 10h... Será que ia dar pra chegar dentro do corte? Nessa velocidade, provavelmente não. Melanie e eu pedalamos de cabeça baixa, sem dizer nada, pois sabíamos que o pensamento era o mesmo: "E se formos cortadas? Todo esse tempo de treino, toda a energia que colocamos nessa prova, e o sonho acabou?" Mas não nos atrevemos a falar sobre isso. Ao invés, pedalamos mais forte.

Quando chegamos ao segundo ponto de água, fomos informadas de que o tempo máximo tinha sido extendido a 11h, "Porque os prós levaram mais tempo do que o esperado". Mais um alívio.

Se nada mais acontecesse, a gente ia terminar dentro do tempo! "Mel, a gente continua no páreo. Vamos nessa!"

Pedalamos com uma alegria indescritível, como se a prova tivesse começado ali. Mas durou pouco. Logo fomos sugadas por longos trechos de areia e subidas intermináveis. Agora deixa eu te contar sobre a areia: Você vem numa velocidade descente, concentrada pra não perder a cadência. Aí você faz a curva e mergulha na areia, pedala em vão, vira o guidão pra cá e pra lá pra tentar equilibrar e a bicicleta simplesmente pára. Você desce e empurra, perde a cadência e o pelotão. E no meu caso, o bom humor também. Foi quando eu disse pra Melanie: "Se tiver mais uma curva com areia, eu vou gritar."

Ela achou aquilo tão divertido que me obrigou a recuperar o humor. Terminamos a etapa sem problemas, dentro do tempo original de corte, com um sorriso monumental no rosto. Tão monumental que quebrou a casca de poeira, areia e suor que se formou na nossa pele.

Sorriso falso, às 5 da manhã












Durante o jantar, os prós foram unamimes em dizer que aquela tinha sido a etapa mais dura do Cape Epic, de todos os tempos...

Comentários

  1. não sei se gosto mais das fotos, do texto ou da música...Just GREAT!

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